Testes empíricos sobre a ocorrência diferencial de listras em duas espécies de Monodelphis (Didelphidae: Mammalia) e seu papel como coloração disruptiva e na evasão de predadores

Nome: MAÍRA FRANCO LEONE
Tipo: Dissertação de mestrado acadêmico
Data de publicação: 25/06/2014
Orientador:

Nomeordem decrescente Papel
Leonora Pires Costa Orientador

Banca:

Nomeordem decrescente Papel
Leonora Pires Costa Orientador
Luís Felipe de Toledo Ramos Pereira Examinador Externo
Sérgio Lucena Mendes Examinador Interno

Resumo: A camuflagem é uma estratégia de defesa que vêm sendo estudada há mais de duzentos anos e inclui uma variedade de tipos, como: coloração disruptiva, coloração semelhante ao substrato, sombreado invertido e marcas de distração Apesar de existirem diversos trabalhos sobre camuflagem em grupos como aves, peixes e insetos, estudos sobre a influência de padrões de coloração na taxa de predação de pequenos mamíferos são virtualmente inexistentes. Monodelphis (Didelphidae) é um marsupial terrestre, de pequeno porte, que exibe atividade diurna e possui um grupo de espécies que apresenta listras escuras em seu dorso, sendo este um exemplo de camuflagem disruptiva. Duas espécies desse grupo, M.americana e M.iheringi, podem ocorrer em simpatria e, nesse caso, nota-se que os machos adultos de M.americana perdem suas listras, enquanto as fêmeas e os indivíduos jovens de ambas espécies e machos de M. iheringi mantêm o padrão listrado. Assim, o objetivo do presente trabalho foi verificar a eficácia das listras para camuflagem, através de testes com o uso de modelos artificiais em campo e através de um aplicativo para Android. Foram confeccionados modelos de plasticina de formas listradas e não-listradas em dois tamanhos diferentes, com medidas similares a de cada uma das espécies. Estes foram distribuídos em 44 pontos de quatro trilhas na mata da Reserva Biológica de Duas Bocas (Cariacica, Espírito Santo), onde as espécies ocorrem em simpatria. Em cada ponto, quatro modelos foram dispostos em razão igual de indivíduos com e sem listras dos dois tamanhos (176 modelos/noite). Foram realizadas quatro campanhas de 10 dias cada, totalizando 6160 modelos-noite. Os modelos eram verificados para marcas de predação duas vezes ao dia (início da manhã/fim da tarde). Foram verificados 41 ataques, sendo: 13 em modelos de tamanho grande com listras, 17 em grandes sem listras, 2 em pequenos com listras e 9 em pequenos sem listras. Com 63% dos ataques, uma taxa de predação significantemente mais alta (G=6,8; p=0,009) foi alcançada pelos modelos sem listras. No entanto, quando analisados somente modelos de tamanho grande, a presença de listras não foi estatisticamente significativa. Na estação úmida (Jan/Maio) houve uma maior diferença na taxa de captura de modelos listrados e sem listra, com modelos listrados sendo significativamente menos predados, o mesmo não sendo observado para a época seca (Jul/Set), já que na estação úmida a serrapilheira torna-se mais escura dificultando ainda mais a detecção do modelo. Outro teste realizado utilizou um aplicativo para Android que exibe fotos de modelos listrados e sem listras, em um fundo natural de serrapilheira, para detecção dos modelos por participantes voluntários. O aplicativo utiliza 20 fotos no total, sendo 10 com modelos listrados e 10 sem listras. A cada rodada, eram mostradas de forma aleatória 10 fotos em igual proporção de modelos, para que o participante tentasse encontrar o alvo na imagem. O experimento foi realizado com 80 participantes não especialistas na área e que não foram informados de antemão sobre a hipótese sendo testada. Foram analisados quatro cenários, com limites de tempo para captura de 5 segundos, 10 segundos, 15 segundos e também sem limite de tempo. Dos 800 testes com o aplicativo para Android, em todos os cenários houve uma taxa maior de erros para modelos listrados, sendo que no cenário de 5 segundos essa taxa foi de 39,5% para modelos listrados e 24% para modelos sem listra. O teste de Wilcoxon mostrou que a média do tempo levado para capturar o alvo foi estatisticamente diferente (p>0,0001) em todos os cenários, com participantes levando mais tempo para capturar os modelos listrados. De acordo com os dois testes realizados, a presença de listras mostrou-se relevante na camuflagem, dificultando a detecção de indivíduos e contribuindo na evasão de predadores. No entanto, listras parecem ser ainda mais efetivas quando associadas ao tamanho reduzido, o que aplica-se a M. iheringi, a espécie de menor porte, e juvenis de M. americana. Portanto, listras parecem ser particularmente importantes para Monodelphis de pequeno porte, sejam eles adultos ou juvenis de diferentes espécies estes últimos indivíduos mais vulneráveis e ainda não sexualmente ativos. No entanto, já que no geral as listras se mostraram importantes, a permanência das mesmas em fêmeas adultas de M. americana poderia estar relacionada ao papel desempenhado pelas mesmas no cuidado da prole.

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