Assinaturas de expansão populacional durante o Último Máximo Glacial revelam uma nova hipótese de diversificação para Akodon cursor (Rodentia, Cricetidae)

Nome: LETÍCIA ROSÁRIO CRUZ

Data de publicação: 09/11/2023

Banca:

Nomeordem decrescente Papel
ANA CAROLINA LOSS RODRIGUES Examinador Interno
JERONYMO DALAPICOLLA Examinador Externo
VALERIA FAGUNDES Presidente

Resumo: O roedor neotropical Akodon cursor (Winge, 1887) possui várias características
marcantes. Possui ampla distribuição ao longo da Mata Atlântica brasileira, ocorrendo do
estado da Paraíba, ao norte, até o Paraná, ao sul. Tem registro de 28 cariótipos distintos, com
três números diplóides (2n=14, 15 e 16) e variação morfológica em 5 pares autossômicos, com
número fundamental variando de NF=18 a 27. Estudos moleculares mostram uma filogenia
com quebra norte-sul, coincidente a região do Rio Jequitinhonha. Embora em algumas
localidades seja evidente a ocorrência de cariótipos exclusivos, como em Pernambuco (2n=16)
e Espírito Santo (2n=14), os cariótipos estão distribuídos em ambos os clados norte e sul. Não
possui grande variação morfológica intraespecífica, sendo considerado críptico com duas
espécies (A. montensis e A. diauarum), que formam o grupo de espécies cursor. Essas
características únicas tornam este roedor um excelente modelo de estudo dos processos de
diversificação dentro de um bioma tão complexo e heterogêneo como a Mata Atlântica. Ainda,
permanecem muitas questões acerca do papel dos cromossomos, rios como barreiras
geográficas e mudanças climáticas nos processos de diversificação dessa espécie. Neste estudo,
investigamos quais os principais eventos que desempenharam um papel importante nos
processos vicariantes que são observados nos estudos filogeográficos de A. cursor. Utilizamos
uma ampla amostragem com 389 espécimes coletados ao longo de toda extensão geográfica da
espécie. A partir de marcadores mitocondriais e nucleares, realizamos análises integrativas,
como filogenias, Análise de Variância Molecular (AMOVA), testes de neutralidade e história
demográfica, análises coalescentes de Bayesian Skyline Plots (BSPs) e dinâmica espaço
temporal, e modelos de distribuição de espécies. Nossos resultados mostraram uma
estruturação filogenética inédita, formada por três principais clados, com alto suporte,
coincidentes às localidades das regiões norte (Paraíba, Pernambuco, norte de Minas e Bahia),
central (Espírito Santo, sul de Minas Gerais e Rio de Janeiro) e sul (Espírito Santo, São Paulo
e Rio de Janeiro) da Mata Atlântica. Os resultados de AMOVA demonstraram que a maior
parte da diferenciação genética está atribuída às diferenças entre os três filogrupos do que entre
populações localizadas acima e abaixo do rio Jequitinhonha. Os testes de neutralidade
juntamente às BSPs indicaram que as populações passaram por expansão demográfica durante
o último máximo glacial (LGM). Esses resultados foram concordantes com os modelos de
distribuição de espécies que mostram que as áreas de adequabilidade para a espécie se
expandiram durante o mesmo período. Além disso, a análise espaço-temporal recuperou que a
espécie se originou a cerca de 800 mil anos atrás e mostrou rotas de dispersão simultâneas para
o norte e para o sul (que posteriormente se dividiram nas linhagens central e sul) da Mata
Atlântica. Dessa forma, nossos dados dão suporte para refutar a hipótese de que rios atuaram
como barreiras efetivas na diversificação da espécie. Ao invés disso, a expansão e retração de
áreas adequadas, associada aos padrões de história demográfica recuperados, apontam que as
oscilações climáticas do Quaternário tiveram um papel mais importante em moldar a
diversificação de A. cursor. Esses padrões, estão alinhados com as premissas da hipótese da
“Mata Atlântida”, que prediz que expansões de áreas adequadas durante os períodos glaciais,
especialmente ao longo da plataforma continental, desempenharam um importante papel na
história evolutiva das espécies. Além disso, os padrões de dispersão recuperados pela dinâmica
espaço temporal também trazem novidades acerca da origem e distribuição das variações
cariotípicas, que parecem ter acontecido na base da diversificação desse roedor. Por fim,
embora não encontremos um forte apoio para a subdivisão do táxon em duas espécies, a
complexidade se sua história evolutiva sugere que A. cursor está passando por um estágio
inicial de especiação.
Palavras-chave: plataforma continental, refúgios interglaciais, Sigmodontinae,
filogeografia

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