Que fatores e em que escala operam? Mais contribuições sobre como as comunidades de formigas (Hymenoptera:Formicidae) se estruturam e atuam no funcionamento do ecossistema Restinga

Resumo: A ecologia de comunidades busca entender como os fatores bióticos e abióticos influenciam a distribuição e a diversidade de espécies presentes nos ambientes, bem como essa diversidade responde a fatores que operam em escalas temporal (sazonalidade) e espacial. A diversidade pode ser medida de diferentes formas, sendo a mais clássica delas a contagem de entidades de organismo diferentes (espécies), presentes em um local, podendo essa ser definida como diversidade numérica ou taxonômica. Entretanto, o conceito de diversidade é muito mais amplo, sendo que esta pode ser mensurada desde a escala de genes até ecossistemas. Dentro da ecologia de comunidades é muito comum o estudo das métricas de abundância, riqueza e composição de espécies, visando entender como estas respondem a diferentes fatores. Porém, outras medidas mais refinadas para estimativas de diversidade, como partição da diversidade em componentes (alfa, beta e gama) e o uso dos traços funcionais das espécies (diversidade funcional) como ferramenta para se inferir o papel da diversidade no funcionamento dos ecossistemas que elas habitam podem trazer respostas mais assertivas sobre como a diversidade responde a diversos fatores e sobre como o ambiente afeta a diversidade, tanto temporal como espacialmente.
Formigas (Hymenoptera:Formicidae) são um dos grupos mais diversos de insetos, apresentam ampla distribuição, são cosmopolitas e exibem uma grande gama de funções ecossistêmicas (HOLLDOBLER & WILSON, 1990), sendo de fácil amostragem, possuindo ecologia e taxonomia bem reconhecidas (AGOSTI et al., 2000). Além disso, possuem características sensíveis a impactos antrópicos (LUTINSKI et al., 2014) e são utilizadas como bioindicadoras no monitoramento dos impactos ambientais (RIBAS et al., 2012). As comunidades de formigas têm um papel indispensável no funcionamento de diversos ecossistemas (HOLLDOBLER & WILSON,1990), pois desempenham diversos serviços ecológicos como dispersão de sementes, controle da comunidade de artrópodes e proteção de plantas, estando também ligadas a processos ecossistêmicos essenciais, como ciclagem de nutrientes e decomposição (Del Toro et al., 2012).
Restinga é um ecossistema pertencente ao bioma Mata Atlântica, que se estende por toda a costa brasileira. Este caracteriza-se por apresentar solo arenoso de origem quaternária e quimicamente carente, tendo como fonte de nutrientes o ‘spray’ marinho, o que leva à ocorrência de condições específicas que restringem o tipo de vegetação que está apta a ocorrer ao longo do gradiente que vai desde a linha da maré até o interior do continente (SECRETTI, 2013; ARAÚJO e LACERDA,1987). Dessa forma o que se observa é um mosaico de vegetações que variam desde herbáceas, arbustivas até fisionomias arbóreas, que resistem às influências marinhas (SUGYIAMA, 1998). Embora exuberantes em termos de biodiversidade e endemismos, tanto da flora quanto da fauna, os ecossistemas de restinga veem sofrendo forte pressão antrópica, devido ao desmatamento, queimadas e por especulação turística e imobiliária. Isso acarreta a perda de habitats e a fragmentação do ambiente, perturbando a biodiversidade presente.
Muitos são os fatores que podem ser responsáveis pela estruturação das comunidades de formigas em ecossistema de restinga, como aqueles que operam em escalas espaciais, p.e. gradientes de vegetação e/ou condições ambientais que se modificam desde a linha da costa até o interior do continente; fatores sazonais, como oscilações nas condições ambientais ao longo do dia e/ou do ano, bem como as alterações antrópicas frequentes como as já descritas, que têm se tornado ameaças cada vez mais constantes à biodiversidade presente nesse ecossistema.
A sazonalidade em pequena escala (diária) é um dos fatores que podem influenciar a composição e diversidade de formigas (LESSARD et. al. 2009; DOS SANTOS, 2012), particionando as comunidades que ocorrem durante o dia e a noite, podendo estar relacionado à mudança de temperatura e umidade durante os diferentes períodos do dia. Por outro lado, os padrões sazonais em grande escala, como o estacional, influenciam a disponibilidade de recursos ofertados pelo ambiente, estruturando as comunidades de formigas ao longo do ano. Os estudos da influência desses mecanismos sobre as comunidades de formigas de restinga são importantes e tal conhecimento pode ajudar a embasar estudos sobre impactos ambientais e políticas de conservação.
A diversidade funcional pode ser definida, de forma ampla, como a distribuição, a abrangência e abundância relativa de traços funcionais dos organismos em um ecossistema (DÌAZ et al. 2007). A adição dos traços funcionais dos organismos em estudos de biodiversidade pode agregar muito, pelo fato de que diferentes espécies podem exercer os mesmos papéis biológicos nos ecossistemas que habitam tendo, portanto, funções redundantes (LAVOREL, 1997).
Dada a influência dos impactos antrópicos nas características dos organismos, a abordagem funcional pode ser utilizada para compreender a estrutura funcional das comunidades em um cenário de mudanças globais, refletindo com maior precisão as respostas das espécies no funcionamento do ecossistema (CHAPMAN et al., 2017; LEITÃO et al., 2017; MOUILLOT et al., 2013). A utilização dos ‘traits’ pode permitir respostas mais consistentes frente aos impactos, por se tratar de uma informação referente à aptidão individual dos organismos, resultando em uma ciência mais quantitativa e preditiva para o entendimento de mudanças globais (McGILL et al., 2006), estabelecendo padrões mais gerais em relação a ecologia de comunidades.

Data de início: 2021-07-01
Prazo (meses): 60

Participantes:

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Coordenador Tathiana Guerra Sobrinho
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